domingo, novembro 27, 2005

História Suja de Havana

"- É, mas eu não trabalhava lá fazia muito tempo. Eu era o Superman. Tinha sempre um cartaz só para mim: "Superman, único no mundo, exclusivamente neste teatro". Sabe quanto media o meu pau bem duro? Trinta centímetros. Eu era um fenômeno. Me anunciavam assim: "Um fenômeno da natureza... Superman... trinta centímetros, um pé, doze polegadas de Superpica... com vocês... Superman!".
- Você sozinho no palco?
- É, eu sozinho. Entrava vestindo uma capa de seda vermelha e azul. No meio do palco, ficava de pé na frente do público, abria a capa de repente e ficava pelado, com o pau mole. Sentava numa cadeira e aparentemente olhava a platéia. Na verdade, ficava olhando para uma branca, loira, que os caras instalavam para mim entre os bastidores, em cima de uma cama. Aquela mulher me deixava louco. Ela tocava uma siririca e quando estava bem excitada um branco se juntava com ela e começava a fazer de tudo. De tudo. Aquilo era tremendo. Mas ninguém via os dois. Era só para mim. Olhando aquilo, meu pau endurecia de arrebentar e, sem tocar nele em nenhum momento, eu gozava. Tinha vinte e poucos anos e lançava uns jatos de porra tão potentes que chegavam no público da primeira fila e borrifavam os veados todos.
- E fazia isso toda noite?
- Toda noite. Sem falhar nenhuma. Ganhava um bom dinheiro, e quando gozava com aqueles jorros tão grandes e abria a boca e começava a gemer com os olhos revirados e levantava da cadeira como se estivesse maconhado, os veados brigavam para ver quem ia tomar banho na minha porra, era como se fossem fitas de serpentina num baile de carnaval, e me jogavam dinheiro no palco e sapateavam e gritavam para mim: "Bravo, bravo, Superman!". Aquele era o meu público e eu era um artista que deixava eles felizes. Aos sábados e domingos ganhava mais, porque o teatro ficava cheio. Cheguei a ser tão famoso que turistas de toda parte do mundo iam me ver.
- E por que parou?
- Porque a vida é assim. Às vezes você está por cima, às vezes por baixo. Já com trinta e dois anos mais ou menos os jorros começaram a minguar, e depois chegou um momento em que eu perdia a concentração e às vezes o pau caía um pouco e depois levantava de novo. Muitas noites eu não conseguia gozar. Já estava meio louco, porque foram muitos anos forçando o cérebro. Tomava pó de pau de tartaruga, ginseng, na farmácia chinesa de Zanja me preparavam um xarope que dava resultado, mas que me deixava muito nervoso. Ninguém imaginava o quanto me custava ganhar a vida assim. Eu tinha minha mulher. Ficamos juntos a vida inteira como se diz, desde que cheguei a Havana até que ela morreu, há uns meses. Bom, pois nessa época eu nunca podia gozar com ela. Nunca tivemos filhos. Minha mulher jamais viu minha porra, em doze anos. Era uma santa. Sabia que se a gente trepasse como Deus manda e eu gozasse, de noite eu não ia conseguir fazer meu número no Shangai. Eu tinha de acumular toda a porra de vinte e quatro horas para o espetáculo de Superman.
- Tremenda disciplina.
- Ou eu tinha essa disciplina ou morria de fome. Não era fácil ganhar a grana naquela época. "
in "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutierrez
Companhia das Letras, tradução brasileira