domingo, novembro 27, 2005

Rodízio à Cubana


"- O estrangeiro do plástico chegou ontem.
- Quando, menina?
- Ontem. E me falou que é para você ir lá.
Eu logo me meto porque nessa história tem grana no meio:
- Que história é essa do estrangeiro do plástico?
- Um estrangeiro que aparece de vez em quando. Depois explico.
Em dez minutos, Isabel está vestida com sua lycra branca, sua mochilinha de couro, muito perfume, muitas bijuterias, penteado louco, me dá um beijo rindo, alegre, e me diz:
- Não me espere, papi, que já ganhámos o pão. Mas é até amanhã, pelo menos.
- Bom, tchau. Cuide-se.
(...)
Afinal amanhece. Fico um pouco na cama. Estou rendido. Durmo. Nisso chega Isabel. Morta de sono e cansaço.
- Ai, papi, esse estrangeiro não me deixou dormir a noite inteira. Estou acabada e com a boceta ardendo. Porra, que burro, que imbecil que ele é!
- Bom, me explique: o cara tem o pau de plástico?
Não, não. Só a cabeça. A cabeça inteira é de plástico. É uma prótese. Mas mesmo assim não gozou. Nem com Susi, nem comigo.
- As duas ao mesmo tempo?
- É. É. A noite inteira batalhando com ele e não gozou. Deixei-o com Yakelín. Quem sabe se não vai ficar trepando dez dias sem gozar?
- É o plástico que não deixa gozar?
- Claro, pois só sente o pescocinho de trás. E os berros que dá. A gente tem de agüentar cada uma...
- Quanto lhe deu?
- Cem mangos. Ele paga cem mangos por noite. Nunca lhe falei dele?
- Não.
- Ah, porque fazia um ano que não aparecia. Esse estrangeiro... bom... nós somos... Susi, Yakelín, Mirtica, Lili, Sonia e eu. Somos seis. E uma vai avisando a outra e fazendo turnos até que acaba gozando com uma de nós. E aí, voltamos para o segundo tempo, porque o sujeito é incansável. às vezes fica três semanas aqui, e é toda a noite, sem pular nenhuma. Quando afinal goza, aí relaxa, se acalma e convida a gente para jantar, dançar.
- E soltou cem mangos para você?
- É, papi. Tá aqui. Mas além disso, vou voltar para o segundo tempo daqui a três ou quatro dias. Esse estrangeiro é nosso e a gente não deixa mais ninguém chegar perto."
in "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutierrez
Companhia das Letras, tradução brasileira