segunda-feira, novembro 28, 2005

Despertar doloroso

Foi num dia quente de finais de Setembro que senti pela primeira vez atracção física por alguém. E não foi apenas uma atracção vulgar, daquelas que agora sinto inúmeras vezes e por inúmeras pessoas ao longo do dia, tipo olha que rabo tão bom, que ombros tão fortes ou que mãos tão grandes e que dedos tão compridos. Foi muito mais do que isso. Foi uma vontade enorme de me entregar a um homem. Um desejo, a que não pude resistir, de o sentir dentro de mim, de lhe agarrar no enorme caralho que tinha acabado de ver ao sair do banho, de o apalpar, de o lamber, de o engolir. Nunca, até esse dia, tinha tido consciência da minha sexualidade e de repente, como se me tivessem aberto, escancarado as portas a um mundo novo, toda eu tremia, as minhas mamas, de tão inchadas, pareciam ter o dobro do tamanho, encharcada e sem pinga de pudor ou vergonha, levantei a blusa de alças que tinha vestida até meio da barriga, despi as cuecas, e comecei a dançar à frente dele, insinuante como as mulheres que já tinha visto nos filmes, embora muito desajeitada e atropelada, fazendo boquinhas e pestanejando. Sentado, imóvel e em completo silêncio ele observava-me. Tinha o olhar fixo em mim e as pupilas em alvo, mas nem uma só palavra saía dos seus lábios. Continuou assim durante largos minutos até eu me aproximar e me ajoelhar entre as suas pernas. Foi só depois de lhe ter enfiado uma das mãos debaixo do toalhão de banho e de ter acariciado a dureza daquele volume enorme que senti o terrível impacto da maior bofetada que apanhei na vida. Até hoje, e passados mais de trinta anos, nunca, eu e o meu pai, conversámos sobre o que aconteceu naquele dia quente de finais de Setembro.
in http://ma-mada.blogspot.com/. Ma, a mal-amada

domingo, novembro 27, 2005

Rodízio à Cubana


"- O estrangeiro do plástico chegou ontem.
- Quando, menina?
- Ontem. E me falou que é para você ir lá.
Eu logo me meto porque nessa história tem grana no meio:
- Que história é essa do estrangeiro do plástico?
- Um estrangeiro que aparece de vez em quando. Depois explico.
Em dez minutos, Isabel está vestida com sua lycra branca, sua mochilinha de couro, muito perfume, muitas bijuterias, penteado louco, me dá um beijo rindo, alegre, e me diz:
- Não me espere, papi, que já ganhámos o pão. Mas é até amanhã, pelo menos.
- Bom, tchau. Cuide-se.
(...)
Afinal amanhece. Fico um pouco na cama. Estou rendido. Durmo. Nisso chega Isabel. Morta de sono e cansaço.
- Ai, papi, esse estrangeiro não me deixou dormir a noite inteira. Estou acabada e com a boceta ardendo. Porra, que burro, que imbecil que ele é!
- Bom, me explique: o cara tem o pau de plástico?
Não, não. Só a cabeça. A cabeça inteira é de plástico. É uma prótese. Mas mesmo assim não gozou. Nem com Susi, nem comigo.
- As duas ao mesmo tempo?
- É. É. A noite inteira batalhando com ele e não gozou. Deixei-o com Yakelín. Quem sabe se não vai ficar trepando dez dias sem gozar?
- É o plástico que não deixa gozar?
- Claro, pois só sente o pescocinho de trás. E os berros que dá. A gente tem de agüentar cada uma...
- Quanto lhe deu?
- Cem mangos. Ele paga cem mangos por noite. Nunca lhe falei dele?
- Não.
- Ah, porque fazia um ano que não aparecia. Esse estrangeiro... bom... nós somos... Susi, Yakelín, Mirtica, Lili, Sonia e eu. Somos seis. E uma vai avisando a outra e fazendo turnos até que acaba gozando com uma de nós. E aí, voltamos para o segundo tempo, porque o sujeito é incansável. às vezes fica três semanas aqui, e é toda a noite, sem pular nenhuma. Quando afinal goza, aí relaxa, se acalma e convida a gente para jantar, dançar.
- E soltou cem mangos para você?
- É, papi. Tá aqui. Mas além disso, vou voltar para o segundo tempo daqui a três ou quatro dias. Esse estrangeiro é nosso e a gente não deixa mais ninguém chegar perto."
in "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutierrez
Companhia das Letras, tradução brasileira

História Suja de Havana

"- É, mas eu não trabalhava lá fazia muito tempo. Eu era o Superman. Tinha sempre um cartaz só para mim: "Superman, único no mundo, exclusivamente neste teatro". Sabe quanto media o meu pau bem duro? Trinta centímetros. Eu era um fenômeno. Me anunciavam assim: "Um fenômeno da natureza... Superman... trinta centímetros, um pé, doze polegadas de Superpica... com vocês... Superman!".
- Você sozinho no palco?
- É, eu sozinho. Entrava vestindo uma capa de seda vermelha e azul. No meio do palco, ficava de pé na frente do público, abria a capa de repente e ficava pelado, com o pau mole. Sentava numa cadeira e aparentemente olhava a platéia. Na verdade, ficava olhando para uma branca, loira, que os caras instalavam para mim entre os bastidores, em cima de uma cama. Aquela mulher me deixava louco. Ela tocava uma siririca e quando estava bem excitada um branco se juntava com ela e começava a fazer de tudo. De tudo. Aquilo era tremendo. Mas ninguém via os dois. Era só para mim. Olhando aquilo, meu pau endurecia de arrebentar e, sem tocar nele em nenhum momento, eu gozava. Tinha vinte e poucos anos e lançava uns jatos de porra tão potentes que chegavam no público da primeira fila e borrifavam os veados todos.
- E fazia isso toda noite?
- Toda noite. Sem falhar nenhuma. Ganhava um bom dinheiro, e quando gozava com aqueles jorros tão grandes e abria a boca e começava a gemer com os olhos revirados e levantava da cadeira como se estivesse maconhado, os veados brigavam para ver quem ia tomar banho na minha porra, era como se fossem fitas de serpentina num baile de carnaval, e me jogavam dinheiro no palco e sapateavam e gritavam para mim: "Bravo, bravo, Superman!". Aquele era o meu público e eu era um artista que deixava eles felizes. Aos sábados e domingos ganhava mais, porque o teatro ficava cheio. Cheguei a ser tão famoso que turistas de toda parte do mundo iam me ver.
- E por que parou?
- Porque a vida é assim. Às vezes você está por cima, às vezes por baixo. Já com trinta e dois anos mais ou menos os jorros começaram a minguar, e depois chegou um momento em que eu perdia a concentração e às vezes o pau caía um pouco e depois levantava de novo. Muitas noites eu não conseguia gozar. Já estava meio louco, porque foram muitos anos forçando o cérebro. Tomava pó de pau de tartaruga, ginseng, na farmácia chinesa de Zanja me preparavam um xarope que dava resultado, mas que me deixava muito nervoso. Ninguém imaginava o quanto me custava ganhar a vida assim. Eu tinha minha mulher. Ficamos juntos a vida inteira como se diz, desde que cheguei a Havana até que ela morreu, há uns meses. Bom, pois nessa época eu nunca podia gozar com ela. Nunca tivemos filhos. Minha mulher jamais viu minha porra, em doze anos. Era uma santa. Sabia que se a gente trepasse como Deus manda e eu gozasse, de noite eu não ia conseguir fazer meu número no Shangai. Eu tinha de acumular toda a porra de vinte e quatro horas para o espetáculo de Superman.
- Tremenda disciplina.
- Ou eu tinha essa disciplina ou morria de fome. Não era fácil ganhar a grana naquela época. "
in "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutierrez
Companhia das Letras, tradução brasileira

Sozinho ...

Caetano Veloso
Sozinho
De: Peninha

Às vezes no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado juntando
O antes o agora e o depois

Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém

Porque você me esquece e some
E se eu me interessar por alguém
E se ela de repente me ganha

Quando agente gosta é claro que agente cuida
Fala que me ama só que é da boca pra fora
Ou você me engana ou não está madura
Onde está você agora