domingo, dezembro 18, 2005

Gramática traiçoeira?

«Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco à tona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos.O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice.De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: óptimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos.Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a movimentar-se: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo.Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo. Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois.
Estavam nessa ênfase quando ela confessou que ainda era vírgula. Ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois géneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objecto, ia tomando conta. Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular: ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjectivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.Os dois olharam-se, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto.Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele nome predicativo do sujeito apontado para seus objectos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma "mesóclise-a-trois". Só que, ascondições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio dosubstantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à línguaportuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.»
Redacção feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco - Recife) e que obteve vitória num concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.

Orgulho pintas

Ele olhou-a descaradamente avaliando-a. Entre dentes disse: "Boa, comia-te toda".
E ela farta de pénis andantes, cabeças ocas, sexo debaixo da língua, figurões, galãs de trazer por bares. "Comias?" Retorquiu olhando-o directamente entre as pernas, "Então vem".
E ele baixando cabeça e dobrando língua e dizendo alto, "Descarada", e ela: "Parvalhão".
E ele dobrado no balcão pensando entre um gole de bebida e uma passa no cigarro: "Querem todas o mesmo como a Lisete".
E vendo a Lisete, aquela cabra, e sabia que esta era como a Lisete, a que tinha olhos doces mas que não eram dóceis, ele é que os via assim.
E uma noite ele disse "És mesmo boa" e ela empurrou-o contra o carro e nem o deixou mexer-se com a pressa que tinha de sexo, a cabra, a mão direita à braguilha, e ele duro e ela a despir as cuecas a dizer-lhe "Penetra-me", e ele a baixar as calças à pressa e ela a dizer «Penetra-me» e ele a já a tinha penetrado e ela «Penetra-me» e ele já no orgasmo e ela impaciente a baixar-se e ele ali nu diante dela e ela a rir...
Cabra, a rir dele e do sexo dele... «Um dia como estas gajas todas como fiz com a Lisete», pensou...
in http://eroticidades.blogspot.com/. By encandescente.

Cantas bem mas não me alegras


E eles no banco de trás do carro, e a mão dela vagueando nas pernas dele subindo e descendo, joelho coxas, coxas joelho, e o desejo aumentando e ele dizendo tens uns olhos tão profundos parecem janelas e ela de olhos semicerrados dispensando palavras e conversa e outras paisagens que não a da mão subindo e descendo e ele com o rosto enterrado no cabelo dela dizendo qualquer coisa sobre naufragar e ondas de mar e oiro nos cabelos e eteceteras e a vontade dela diminuindo e pensando onde é que já ouvi isto, este gajo só diz frases feitas e lugares comuns, e ele a tua pele parece seda cheiras a mel e ela parando mão e arrepiando caminho e pensando mel? cheiro a mel? e ele insistindo na conversa, mel na voz, o teu pescoço é uma coluna de alabastro... Ah essa não, alabastro não! disse ela endireitando janelas e olhar, sacudindo ondas cabelo e frases feitas, endireitando pescoço e alabastro e saindo do carro lugar comum, deixando a falar sozinho o candidato a Camões campeão de frases feitas.
in http://eroticidades.blogspot.com/. By encandescente.